Pesquisa e Inovação

Reabilitação cardíaca, desafios, avanços e o caminho a seguir: o papel do Profissional de Educação Física.

Todos os anos, no mundo, milhões de pessoas entram em recuperação após um evento cardiovascular, como infarto do miocárdio, intervenção coronária percutânea, cirurgia de revascularização do miocárdio, cirurgia de válvula cardíaca ou transplante de coração.

Surpreendentemente, menos de 25% dos pacientes que tiveram um evento cardiovascular participam na reabilitação cardíaca, apesar dos seus múltiplos benefícios comprovados cientificamente (Thomas, 2024).

A reabilitação cardíaca, também conhecida como reabilitação cardiovascular, é uma abordagem multidisciplinar com a presença fundamental do profissional de Educação Física. Ela é sistemática, mas personalizada com evidências científicas na prevenção secundária de pessoas com doenças cardiovasculares. As diretrizes de reabilitação cardíaca estabeleceram um novo paradigma para pacientes com doença cardiovascular, sendo a terapia com exercício físico um dos pilares do tratamento de cardiopatas (Taylor, 2023).

No que tange ao papel do profissional de Educação Física em avaliações dos pacientes, documentos pelo mundo foram elaborados mostrando a relevância da avaliação antes, durante e após um programa convencional de Reabilitação Cardíaca. Quanto a atuação do profissional de Educação Física no programa de treinamento físico dos pacientes em reabilitação cardíaca, sabe-se que cada paciente tem um plano de tratamento personalizado, exercícios orientados por diretrizes, compreendendo exercícios aeróbios, treinamento de força, treinamento da flexibilidade e do equilíbrio. Pacientes em recuperação de cirurgia cardíaca são orientados através de atividades físicas adequadas para proteger o esterno em cicatrização de lesões.

Para pacientes com doenças cardíacas crônicas, que não apresentam contraindicações, recomenda-se um programa de exercícios, incluindo pelo menos 150 minutos/semana de atividades aeróbias de intensidade moderada e/ou 75 minutos/semana de atividades aeróbias de intensidade mais alta para melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida, além de reduzir a internação hospitalar e a mortalidade. Em relação ao treinamento de força, são indicados de 2 a 3 dias/semana para melhorar a força muscular, capacidade funcional e reduzir o risco cardiovascular.  Atividades de baixa intensidade (por exemplo, caminhar nas pausas do trabalho) para reduzir o comportamento sedentário (isto é, tempo sentado) são razoáveis ​​para melhorar a capacidade física e reduzir o risco cardiovascular, especialmente em indivíduos com baixos níveis de tempo habitual de lazer ativo (Taylor, 2023).

Portanto, alguns documentos demonstram que hoje é necessária mais inovação para aumentar o alcance da reabilitação cardíaca a todos os pacientes elegíveis com doença cardiovascular e para cobrir essa lacuna de participação – um dos maiores desafios na qualidade dos cuidados da doença cardiovascular hoje (Thomas, 2024).

A reabilitação cardíaca domiciliar vem mostrando resultados semelhantes na prevenção secundária, com menores taxas de readmissão hospitalar em 12 meses, quando comparada ao programa tradicional e presencial. Há dados na literatura, que um programa domiciliar, sem participação formal em programa de reabilitação cardíaca convencional, mostrou que a mortalidade foi 36% menor entre os pacientes que escolheram atendimento domiciliar reabilitação cardíaca do que entre aqueles que optaram por não participar da reabilitação cardíaca (Controle). O início da reabilitação cardíaca também parece ter uma adesão maior e desfechos melhores para reabilitação cardíaca domiciliar do que para programas baseados em centros (43% vs. 13%) (Thomas, 2024).

Em suma, a reabilitação cardíaca começou através de métodos inovadores para ajudar os pacientes a se recuperarem após um evento cardiovascular. Apesar de seus benefícios conhecidos, atualmente apenas uma minoria dos pacientes participa de atividades de reabilitação cardíaca. Profissionais de saúde, incluindo o Profissional de Educação Física, administradores e legisladores deveriam compartilhar a responsabilidade pela implementação de medidas eficazes para adesão de todos os pacientes elegíveis para que os mesmos tenham benefícios na saúde cardiovascular.

Referências de base:

  • Taylor RS, Dalal HM, Zwisler AD. Cardiac rehabilitation for heart failure: ‘Cinderella’ or evidence-based pillar of care? Eur Heart J. 2023 May 1;44(17):1511-1518. doi: 10.1093/eurheartj/ehad118.
  • Taylor JL, Myers J, Bonikowske AR. Practical guidelines for exercise prescription in patients with chronic heart failure. Heart Fail Rev. 2023 Nov;28(6):1285-1296. doi: 10.1007/s10741-023-10310-9.
  • Thomas RJ. Cardiac Rehabilitation – Challenges, Advances, and the Road Ahead. N Engl J Med. 2024 Feb 29;390(9):830-841. doi: 10.1056/NEJMra2302291.

 

Câmara Técnica de Saúde do CREF1

 

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