A história do profissional de Educação Física Alan de Oliveira da Costa é uma daquelas que valem ser contadas. Sinônimo de superação e dono de um sorriso incomparável, o profissional ultrapassou inúmeras dificuldades para realizar o sonho de atuar e viver da Educação Física. Diagnosticado com Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância, comumente conhecida como Paralisia Cerebral, Alan teve reflexos no movimento e na fala, os quais não o impediram de conseguir o carinho das crianças e adolescentes do projeto See Ya, executado na academia Cia Athletica, na Barra da Tijuca.
Após dois anos como estagiário da academia, este ano ele foi contratado como profissional de Educação Física e encara essa nova etapa como a realização de um sonho. “São poucas pessoas que têm essa dificuldade e conseguem um emprego. Hoje eu vivo a Educação Física, amo o que faço e isso não tem preço que pague. Estou vivendo o meu sonho e estar aqui (na Cia Athletica) me satisfaz”.
Ao escolher atuar na área, o profissional abriu mão do auxílio financeiro que recebia do governo, pois, como ele mesmo conta, não havia estudado e se dedicado tanto somente por um diploma, mas para trabalhar com aquilo que sonhava.
Sobre a contratação
Na época em que concorreu a vaga de emprego na Cia Athletica, Alan ainda não estava apto a ser contratado pela ausência da formação. No entanto, segundo Renata Rodrigues, gestora da academia e conselheira do CREF1, durante uma conversa com o agora profissional eles identificaram uma forma de integrá-lo a equipe.
“O Alan veio e fez uma entrevista brilhante, então nós resolvemos adicioná-lo ao nosso programa de estágio. Tudo por conta de sua fala quando eu perguntei como ele se sentiria se as pessoas reagissem com ele de forma preconceituosa; ele abriu um sorriso e disse que agiria normal. Foi nesse momento que ele mostrou que estava preparado para fazer parte desse desafio trabalhar aqui”, lembrou Renata.
Desde o início de sua jornada na Cia Athletica, Alan contou com a parceria de muitas pessoas, uma delas foi a profissional de Educação Física Cássia Matos. “Quando o Alan chegou aqui foi uma novidade para tudo mundo, mas ele se apresentou solicito e coerente com tudo. Hoje, conseguimos fazer um esquema que fico supertranquila e ele se sai muito bem”.
“Eu tenho essa crença de que a Educação Física acolhe a todo mundo e que ela não tem limite”
Renata Rodrigues
Alan é responsável pela sala de maquinários, onde auxilia, corrige exercício e “dá bronca”, quando é necessário, e Cassia fica nas atividades coletivas. “O processo está bem legal. Ele veio trazer para as crianças uma vivência diferente e enriquecedora que as tornou mais humildes, mais humanas e mais capazes de entender o outro sem desmerecer.
Renata explica que no início não foi fácil, porque as pessoas o olhavam diferente. “Esse estranhamento não durou 15 dias. Hoje a gente até esquece que o Alan possa ter uma condição limitante, porque para gente e para as crianças ele não tem limitação alguma”. Atualmente, Alan supervisiona alguns estagiários da academia e teve a carga horária ampliada. “A gente tem o privilégio de ter o Alan aqui, de poder aprender com ele a ser melhor e a viver uma Educação Física verdadeira e plena, que é a que eu acredito. Eu tenho essa crença de que a Educação Física acolhe a todo mundo e que ela não tem limite.
O início
Mas a relação de Alan com a Educação Física começou foi no tatame, durante as finalizações e embates do Jiu-Jitsu. Faixa preta há mais de seis anos, foi nesse local que ele descobriu que essa era a profissão que queria para a sua vida. Em 2014, ele começou a percorrer os corredores da faculdade ainda sem saber ao certo como seria o futuro na profissão. “Aos poucos fui gostando da profissão até que me apaixonei e resolvi realizar o sonho de trabalhar”.
Com uma rara seriedade, o profissional fala sobre o preconceito sofrido e como as pessoas o viam. Ele lembra que, antigamente, quando nasceu, as pessoas costumavam tratá-lo como “debiloide”, como alguém que não tinha valor. Voltando para os dias atuais, o profissional informa que ainda existem pessoas que não o reconhecem como profissional, que o olham de forma estranha, por ser diferente, mas isso não tira a esperança de que um dia isso mude. “Não ser reconhecido como profissional de Educação Física me magoa, porque sei da minha capacidade e dificuldade. Espero que um dia isso acabe”, confidencia Alan.
>Confira a reportagem que o G1 fez sobre o profissional
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