Notícias

Comunicado, Informes

Educação Física sem fôlego: um dos assuntos do Jornal O Globo desta sexta (10)

10/04/2015

Olimpíadas motivam projetos em escolas, mas especialistas dizem que educação física ainda é pouco valorizada
Para eles, programas suscitados pelas Olimpíadas ainda são pontuais
RIO – De vez em quando, o diretor adjunto do Ginásio Experimental Olímpico Juan Antonio Samaranch, Marcelo Laignier Rolim, saca uma Nikon D7000 para fotografar seus alunos.
– Gosto de registrá-los sorrindo. É a maior prova de que fazemos um bom trabalho – diz.
Localizada em Santa Teresa, a escola de Rolim pertence à rede municipal e é uma das três construídas dentro de um modelo cuja proposta é o funcionamento em tempo integral vocacionado ao esporte. São 535 alunos, do 6° ao 9º ano. Além de aulas, eles aprendem e treinam dez modalidades, como natação, atletismo e esportes de quadra. O corpo docente tem 35 professores, incluindo dez treinadores, sendo 50% mestres.
– Todas as atividades são discutidas em conjunto com os alunos, que são direcionados a atividades conforme o perfil. Trabalhamos a tríade aluno, atleta e cidadão. E eles precisam se sair bem em todos os aspectos – explica Rolim.
Sem problemas como evasão e violência, os alunos que deixam o ginásio têm conquistado vagas em escolas renomadas e levam na mochila uma robusta coleção de medalhas.
– A ênfase no esporte faz com que nossos alunos tenham o espírito de competitividade e a noção de serem capazes de superar seus desafios com as próprias pernas – resume Rolim.
Além da unidade de Santa Teresa, a prefeitura inaugurou, em 2013, outros dois ginásios, em Pedra de Guaratiba e no Caju, com capacidade para 350 alunos cada. Até o final de 2016, estão previstos mais dois: nas vilas olímpicas de Honório Gurgel e do Juquiá, na Ilha do Governador.
Os ginásios estão entre as bandeiras da prefeitura como legado das Olimpíadas para a educação. Mas, para especialistas, por mais bem-sucedida que seja, a iniciativa e outros programas suscitados pela competição ainda são bastante pontuais.
– Tradicionalmente, a educação física é trabalhada no Brasil de forma limitada, reduzida a alguns esportes. E nem dentro dessa limitação a disciplina está bem resolvida. Caso contrário, haveria quadras, vestiários e equipamentos em boas condições em todas as unidades. Projetos como os ginásios são ilhas de excelência dentro de uma rede com centenas realidades diferentes – avalia o coordenador da capital no Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, Roberto Alves Simões, professor de educação física nas redes estadual e municipal.
Simões cita como exemplo a Escola Municipal Soares Pereira, na Tijuca, onde atua desde 2002:
– O espaço para a prática de esportes tem o chão deteriorado. Dois banheiros que poderiam servir de vestiários estão interditados. Como não há cobertura, ficamos expostos a chuva e sol. Redes, bolas e traves também estão ruins.
A prefeitura diz que o espaço não tem viabilidade técnica para receber cobertura. Mas afirmou que estão previstas, para este ano, aquisições de equipamentos esportivos, recuperação dos banheiros e pintura.
ATIVIDADE É FEITA NO TEMPO QUE SOBRA
Doutor em Ciências do Esporte, o professor da Uerj Luiz Alberto Baptista cita ser consenso que, para bons resultados, o esporte deve ser praticado três vezes por semana, em períodos de aproximadamente uma hora e meia. Mas as escolas ainda reduzem a disciplina ao tempo que sobra. Para ele, a educação física precisa contemplar desde o ensino infantil.
– É preciso difundir a visão de que se movimentar é uma forma de expressão. Vários estudos mostraram que quem possui dificuldade com isso acaba enfrentando barreiras cognitivas.
O professor Lino Castellani, que coordena o Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer da Unicamp, concorda. Para ele, os jogos não tiveram impacto que se colocasse como parâmetro de novas práticas pedagógicas, capazes de fazer a educação física superar seus limites históricos.
– Pelo contrário, o que assistimos foi ao recrudescimento da defesa de uma educação física centrada nos parâmetros da performance esportiva – diz.
A secretária municipal de Educação do Rio, Helena Bomeny, por sua vez, afirma que um conceito mais global da educação física está sendo difundido na rede, a partir de um currículo próprio e programas de capacitação de professores. Segundo ela, também houve progressos na infraestrutura:
– Temos 1.008 escolas de ensino fundamental e, dessas, 632 têm quadras esportivas. Desde 2009, 67 unidades ganharam quadras e três outras estão com processo de aprovação para execução. Mas temos escolas onde não é possível construir. Para isso, temos parcerias com clubes e associações. Também contratamos mais de mil professores na área.
Na visão de Helena, o maior legado do mundial será o fomento ao debate sobre valores olímpicos, que traduzem um conceito universal de cidadania plena:
– Essa discussão está em todas as escolas, independente de ter quadra ou não.
Na rede estadual, também foram feitas mudanças curriculares para que a disciplina fosse compreendida de maneira mais moderna, e há programas em curso. Um desses programas é o Transforma, executado em parceria com o Comitê Rio 2016, cujo objetivo é levar valores olímpicos e novos esportes às escolas. Isso acontece através do treinamento presencial e on-line de alunos, coordenadores pedagógicos e professores de educação física.
– Queremos utilizar o esporte para fortalecer os valores olímpicos. Para isso, além dos treinamentos e dos materiais didáticos, o Transforma lança desafios que estimulam a reflexão, a integração e a criatividade – explica a gerente-geral de Educação do comitê, Mariana Behr.
Segundo ela, o projeto está em cerca de 350 escolas públicas e particulares do estado do Rio, alcançando 177 mil alunos. Para este ano, estão previstas cerca de 11.300 vagas e expansão para mais cidades.
No âmbito das particulares, o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro, Edgar Flexa Ribeiro, não observa impactos das Olimpíadas dentro das instituições:
– A escola é um organismo inserido na sociedade. Os Jogos representarão para a escola aquilo que representarem para todo mundo. Pode ser que, no futuro, existam consequências maiores.
ORÇAMENTO NÃO PRIORIZA ESCOLAS
Para o professor da Fundação Getúlio Vargas Pedro Trengrouse, mestre em Gestão, Marketing e Direito do Esporte, alguns programas colocados em prática mostram que, de fato, existiram avanços. Mas ainda é muito pouco.
– O principal financiador dos Jogos é o governo federal. E, quando olhamos para o orçamento do Ministério do Esporte, percebemos que mais de 90% estão na Secretaria de Alto Rendimento, enquanto a Secretaria de Esporte Educacional tem um orçamento muito pequeno. Isso já mostra como escola não é prioridade – observa.
Trengrouse destaca que, diferente de países como os Estados Unidos, a base de formação dos atletas no Brasil não vem de escolas, mas de clubes.
– A prioridade deveria ser os Jogos servindo ao Brasil, e não o contrário. Ao que tudo indica, o resultado será bem parecido com o da Copa, quando o mundial passou por aqui e deixou o futebol brasileiro para trás – prevê.

FONTE: Jornal O Globo de 10/04/2015.

Outras notícias:

Comunicados

CREF1 flagra exercício ilegal de treinamento funcional em Xerém, Duque de Caxias

Fiscalização

Fiscalização realiza operação conjunta com o PROCON no município de Cabo Frio

Fiscalização

Fiscais flagram exercício ilegal em academia de Rio Bonito

Comunicado

Nota de falecimento

Fiscalização

Fiscais flagram exercício ilegal em academia de Campo grande

Fiscalização

Fiscalização flagra leigo ministrando aula de alongamento no município de Miguel Pereira

plugins premium WordPress