A hérnia de disco, caracterizada por alterações nos discos da coluna vertebral, tem na prática de exercícios físicos uma aliada para a prevenção, tratamento e recuperação pós-procedimentos como endoscopia de coluna e microscopia. Ou até mesmo da cirurgia convencional, prática menos comum no enfrentamento desse problema, atualmente, por ser mais invasiva.
O paciente com hérnia de disco pode sentir dores na coluna, especialmente na lombar e na cervical, e, em casos mais avançados, o incômodo irradia para membros inferiores e superiores, causando também perda de sensibilidade e formigamento. Ainda assim, não dá para imaginar tratar o problema sem os exercícios físicos prescritos pelo médico que faz o seu acompanhamento. Em alguns casos, pode haver a necessidade de dar uma pausa em alguns esportes, como os de impacto, a exemplo das corridas. Mas o objetivo do tratamento é que essa pausa não seja permanente e que se volte à modalidade de sua preferência.
Coordenador da pós-graduação em cirurgia endoscópica de coluna na Universidade de São Paulo (USP), o médico ortopedista João Paulo Bergamaschi, especialista em coluna vertebral, explica que a função dos discos é amortecer e absorver impactos, além de permitir que haja movimento entre as vértebras. E que por serem muito usados para realizar movimentos, desde um simples ato de se virar na cama até exercícios físicos, podem sofrer desgastes e, ao se deslocar, resultar em um quadro de hérnia. Dada a proximidade dos nervos que saem da coluna para os membros, a dor pode irradiar e o indivíduo sofrer com incômodos agudos e limitantes.
Segundo o ortopedista, a hérnia de disco pode ter muitas causas, entre elas o componente genético, que pode aumentar a tendência a uma degeneração maior. No entanto, ele explica que a musculatura fraca, má postura, sobrepeso e obesidade tendem a sobrecarregar mecanicamente os discos da coluna vertebral, predispondo a esse problema. Sem contar que tabagismo, diabetes e colesterol alto podem interferir na quantidade de sangue que chega à coluna, contribuindo para uma degeneração maior dos discos vertebrais. Diante desse quadro, o ortopedista afirma que os exercícios físicos são fundamentais para a recuperação do paciente.
– Essa é a peça mais importante do tratamento. Mesmo o indivíduo que não apresenta dor pode preveni-las com o exercício. Quando há dor, é preciso uma atividade ou reabilitação mais direcionada. Mas fazer um programa de exercício é obrigatório no conjunto de opções de tratamento da hérnia de disco. Mesmo em casos mais complexos, em que o paciente não apresenta resposta a um tratamento conservador e é preciso pensar em uma intervenção, ele não deverá ficar em casa deitado. O indivíduo continuará a reabilitação até a intervenção e, depois, realizará um exercício para a recuperação pós-procedimento – explana Bergamaschi.
O médico neurocirurgião Marcelo Amato, doutor em neurocirurgia pela USP e especialista em cirurgia minimamente invasiva e endoscopia de coluna, endossa que os exercícios físicos são essenciais para a prevenção de quadros de hérnia de disco e para a reabilitação. Por ser um problema multifatorial, não se pode descartar os aspectos genéticos e os impactos do envelhecimento das articulações. Contudo, o neurocirurgião pondera que, ao trabalhar a estrutura muscular para dar uma sustentação adequada para a coluna no dia a dia, é possível prevenir e enfrentar esse problema.
É preciso combater o sedentarismo. Esse é o grande vilão dos problemas de coluna. Nosso corpo não foi feito para ficar 12h sentado em frente ao computador. É preciso incluir exercícios para a sustentação e estabilização do corpo ao longo do dia – afirma o neurocirurgião, emendando que é preciso adotar ainda um conjunto de hábitos saudáveis, que incluem também sono de qualidade e alimentação balanceada. – Esses cuidados são bons para a prevenção de muitas doenças e também para a coluna.
Embora os benefícios dos exercícios sejam incontestáveis, o neurocirurgião argumenta que é preciso orientação médica para a prescrição dos exercícios conforme as particularidades do paciente e do seu quadro. Afinal, quando a pessoa sofre com dor aguda, por exemplo, as atividades físicas serão importantes, mas inspiram cuidados. Nesses casos, como paciente apresenta sintomas como perda de força e sensibilidade, Amato explica que os exercícios devem ser monitorados por fisioterapeuta e/ou profissional de Educação Física. Além disso, quando é submetido a um procedimento, mesmo que minimamente invasivo, o médico precisa prescrever a atividade.
– O exercício físico é essencial na prevenção e na reabilitação dos quadros de hérnia de disco. Combato o sedentarismo a todo o custo. A questão fundamental é individualizar, se aquela pessoa precisa de exercício com orientação de fisioterapeuta, educador físico ou se está apta a fazer as atividades sozinha – afirma, acrescentando que procedimentos modernos muito indicados atualmente, como a cirurgia endoscópica, procedimento minimamente invasivo, visam ajudar o paciente a retornar mais rapidamente às suas atividades rotineiras, profissionais e também esportivas.
Marcelo Amato explica que o tratamento clínico, inclusive, se faz com o uso de medicamento e fisioterapia voltada para o fortalecimento da musculatura. E reforça os cuidados com atividades de impacto.
– Não quer dizer que não possas ser feitas, se a pessoa já está acostumada. Mas ela precisa estar ciente dos riscos – pondera o neurocirurgião, acrescentando que, no caso da corrida, especificamente, uma vez que proporciona um impacto nos discos, pode ter o efeito positivo de ajudar a bombear os nutrientes da sua periferia para o centro, favorecendo a prevenção de casos de hérnia de disco.
João Paulo Bergamaschi corrobora que estudos indicam que correr pode contribuir para uma melhor composição dos discos vertebrais. Mas quando o paciente está com dor e movimentos limitados, o ortopedista recomenda evitar exercícios com muito impacto, como é o caso da corrida, além de exercícios que envolvam flexão de tronco. Agora, se o indivíduo não está em crise e precisa fazer uma atividade como forma de tratamento ou prevenção da hérnia de disco no futuro, Bergamaschi destaca a importância de fortalecer o abdômen, a lombar e a cadeia posterior, sem se esquecer, porém, dos demais grupamentos musculares, inclusive quando se está em reabilitação.
– É preciso um trabalho global para desenvolver a musculatura de forma uniforme. Até porque se a musculatura está boa, produzirá substância anti-inflamatória que ajudará também na recuperação. O tratamento visa que o paciente volte a ter vida totalmente normal e é preciso montar um planejamento para permitir à coluna suportar que ele volte fazer a atividade que gosta, seja jogar vôlei ou correr, por exemplo – observa o ortopedista.
– Se a pessoa é apaixonada, é difícil tirá-la do seu esporte, mas esse também não é o nosso papel. Nosso objetivo é dar os meios para ela voltar de forma mais segura. E é preciso cobrar isso do médico. O paciente correu a vida inteira, tratou clínica ou cirurgicamente e se recuperou do problema, com certeza conseguirá correr novamente. É uma questão de reabilitação. Mesmo o paciente que nunca correu, teve hérnia de disco, mas sempre sonhou em correr, seu corpo se adaptará, se os impactos desse esporte forem incluídos de forma lenta e progressiva – conclui o neurocirurgião.